terça-feira, 1 de junho de 2010

SOLZHENITSYN, o exemplo, o homem, a obra.


Alexander Solzhenitsyn revela, neste século XX de tantas acomodações, de esmagamento da personalidade, a verdadeira missão do escritor em face da sociedade. Acusado, perseguido, ameaçado em sua própria Pátria, da qual revelou crimes do Poder que ali se erigiu soberano há mais de cinqüenta anos, ele aguarda, com a tranqüilidade do dever cumprido, que se cumpram os tempos em que a voz da Verdade, ainda que abafada, possa ecoar em muitos corações.

Eis suas palavras reveladoras:

“Quem fala de crimes cometidos (como ele o fez) não se opõe à paz e às boas relações entre as pessoas e as nações, mais sim quem praticou os crimes”.

Afirmou estar “preparado para tudo”, tanto ele quanto a sua família, depois das acusações assacadas contra ele na imprensa soviética, após a publicação de seu livro “Arquipélago Gulag”, no qual denuncia os sofrimentos dos prisioneiros nos campos de trabalhos forçados da URSS, e os métodos da KGB – policia secreta.

O romancista, Prêmio NOBEL de literatura, está com a sua consciência em paz. Como escritor, testemunha de seu tempo não podia ficar impassível. “Paguei minha divida para com os mortos. Estas verdades estavam condenadas à morte. Eram pisoteadas, sufocadas, queimadas até serem convertidas em cinzas. Porém, vejam vocês: sobreviveram, estão vivas, foram impressas e ninguém jamais poderá fazê-lo desaparecer”.

E acrescenta: “Durante décadas, tanto foi que se ocultou que sua revelação sacudirá todos os que não tinham conhecimento dos fatos, lhes educará o coração e lhes dará luz e força para o futuro”.

Alexander Solzhenitsyn dá, com estas palavras, o testemunho da posição que o escritor, consciente de seu papel no mundo, deve assumir diante da sociedade. Não apenas da sociedade restrita, que o obriga e o circunscreve, que o limita e condiciona, mas daquela sociedade mais vasta, informada pelos princípios eternos do respeito à personalidade, que é o conjunto de todos os homens livres.

Ele é o observador atento dos acontecimentos de sua época. Corajosa testemunha da História, que depõe para o futuro com o destemor dos crentes. Aliás, há em suas palavras o cunho místico que marca a alma do povo russo, profundamente religioso, povo messiânico apesar de todas as pressões e compreensões políticas. Ele acredita, como Cristo, que “a Verdade vos libertará”.

Por isso é que diz, em declaração que assinou, recentemente, para os jornalistas ocidentais:

“A confiança de todo o mundo em nosso país só poderá aumentar se reconhecermos que nosso passado está saturado de terror e o condenarmos com a energia necessária, e não somente com palavras vazias”.


Torrieri Guimarães – Jornalista, escritor, crítico literário. Prólogo do livro Uma palavra de verdade...de Alexander Solzhenitsyn, 1972, Hemus – livraria editora ltda.


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