terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O ressentimento marxista

Fernando Rodrigues Batista



Como outrora salientou Raimundo Farias Brito, filósofo cearense desaparecido nos alvores do século recém findado e desconhecido do grande público em decorrência da hegemonia da ideologia marxista: “O interesse justifica a luta pelo pão, em nome do qual reclamam os socialistas a reforma da sociedade; mas o que não se justifica, nem se explica, é o interesse mesmo, elevado à categoria de princípio soberano da moral. É preciso partir de mais alto e submeter a exame mais profundo a verdadeira significação da natureza humana”.
Em decorrência do paroxismo esquerdista em que a moderna intelligentsia utópica mergulha o mundo, todos os princípios de normalidade humana vêem-se cada vez mais contestados, isto é, profundamente negados e rejeitados.
Daí a crença – como lembra Thomas Molnar também pouco conhecido entre nós - de que a humanidade poderá um dia livrar-se de tudo que a divide, de todas as distinções e desigualdades e a noção do amor como fusão de todos os seres e finalmente a insistência em querer dissolver os laços que lembram a antiga humanidade “ultrapassada”, laços de família, de propriedade, de hierarquia e laços com um Deus transcendente.
Como na Rússia aniquilada pelo bolchevismo, o inimigo é o gulag, o senhor da terra, o camponês livre com sua família e sua aldeia. Contra tão vivificadora presença se alçou a máquina destruidora de Lênin e Stalin, cujo último objetivo – como assinala Alexander Soljenítsin - era "destruir uma forma de vida nacional e extirpar a religião dos campos". Ali estão os versos lancinantes de Sérgio Esénin, para testemunhar que o dano imenso causado ao ruralismo pela revolução comunista, foi desterrar esse Cristo camponês, ante cuja majestade se inclinavam os pinheiros e os salgueiros para entoar-lhe o Hosana, esse Cristo divino lavrador, frente ao qual, até a névoa do pântano se fazia incenso em tributo de louvor.
Nosso Nélson Rodrigues que tantas vezes em seus artigos em “O Globo”, com verbo inflamado atacou o marxismo e seus próceres, é bem elucidativo quanto ao famigerado humanismo marxista: “Aí está o óbvio, não o simples óbvio, mas o óbvio ululante. Nem se precisa ser arquiteto, ou poeta, ou cineasta, ou sociólogo para perceber a brutalíssima evidência. O que já fez e continua fazendo o socialismo? Sim, o que nos ensina a experiência socialista senão o massacre de todas as liberdades? Eu poderia citar outras, e outras atrocidades. Lembrarei apenas uma: o estupro da pessoa humana. E que nos deu o socialismo, em troca da pessoa humana? Deu-nos a antipessoa. Aí está a figura mais hedionda da nossa época: - a antipessoa. A Rússia a criou, eis a verdade. E uma mãe, num poste de ônibus, suspirava: - ‘Hoje meu filho me deu uma surra’. Não era o filho, era a antipessoa. O anti-homem é algo de visível, de tangível, algo que podemos apalpar, sim, farejar, fisicamente. Tudo isso, repito, é óbvio mais ululante da terra”.
Qual o motivo ante a experiência socialista, manchada até a medula pelo sangue de milhões de vidas humanas, faz com que tantos jovens sofram ainda o influxo da ação revolucionária das esquerdas de todos os matizes?
Nélson Rodrigues vai direto aos intelectuais: “Mas ai de nós, ai de nós. Os nossos intelectuais não vêem o óbvio, seja ululante ou o simples óbvio, sem superlativo. A Grande Revolução foi uma gigantesca e sangrenta impostura. E, agora, eles assistem à curra da Tchecoslováquia. Vêem as radiofotos dos violados tchecos chorando. E, então, a nossa inteligência conclui: O socialismo é liberdade”.
Remetendo o assunto a nossa realidade, vemos estagnados a fina flor da intelectualidade brasileira (analfabetos diplomados), sejam eles juristas, sociólogos, professores universitários, simples palpiteiros e até mesmo o mais modesto vendedor de pipoca da esquina entoarem loas ao desgoverno revolucionário que assola todo país.
Quilombolas, MST, reservas indígenas, cotas para negros, uniões civis de homossexuais, aborto, etc.: estamos caminhando para uma sociedade justa e igualitária dizem eles.
Por outro lado, fascistas, preconceituosos, racistas e toda sorte de epítetos são atribuídos a todos àqueles que conseguem enxergar o óbvio ululante: estamos caminhando em passos largos para o totalitarismo comunista.
No entanto, consola-nos que – e temos escutado e visto pessoalmente, longe dos registros televisivos condescendentes com a má sorte que se aproxima - nas propriedades rurais tão intensas e viris de nossos dias, e mesmo nas conversas diárias com a gente simples do povo, não hão faltado espontâneas e fundamentadas vozes e manifestações que desmascaram o caráter revolucionário e terrorista do governo que os castiga e persegue. É o modo local inequívoco de protestar contra o marxismo dominante. É o sinal suficiente entre nós, para avisar e advertir que são os vermelhos os responsáveis desta investida anti-nacional. É o sinal de que ninguém se engana sobre a trágica existência de uma tirania, exercida por antigos terroristas camuflados agora em dirigentes da nação.
Como todos os marxistas, os que compõem o desgoverno subversivo do PT não se inclinam ante os pobres ou ante as minorias (que são a pedra de toque de todo discurso hipócrita da esquerda) para resolver-lhes realmente sua angustiosa situação. Não se interessam por eles caritativamente senão, como o prescreveu lapidarmente Henri Lefebvre, lhes servem de força propagandística, de vítimas manipuláveis, de ocasião e escusa para exercitar a demagogia populista e o utopismo insensato de prometer que se acabará com a pobreza como que promete que chegará inexoravelmente o verão após rigorosos frios. Os pobres, as minorias da retórica esquerdista não são os do Evangelho, cujas chagas puderam cobrir os monarcas santos. Não são sequer os esfarrapados aos que chega o assistencialismo filantrópico. Os pobres dos discursos da esquerda – enquanto seus asseclas exibem impúdicamente suas finas roupagens e frivolidades exasperantes – são os mesmos dos quais falava hipócritamente Liu Chao Tchi em 1950: “uma classe a qual não há que aliviar sua miséria senão utilizar como pretexto político e força de choque”.
Esta não é a gestão de Robin Hood – tirando dos ricos e dando aos pobres - senão a de profissionais da usura, da máfia, do delito e do homicídio, ao serviço da plutocracia internacional. Não é a gestão do Cavaleiro de Sherwood senão a da donzela dos tugúrios sionistas e das USPs dos terroristas de ontem.
Com ela como símbolo da tragédia que padecemos, se constata uma vez mais o que dissera o argentino Alberto Falcionelli: “o capitalismo e o marxismo são ruptura na história. Ruptura da Tradição, da Fé, da Nacionalidade e da Decência”.
É a existência mesmo de nossa nação que está em jogo. Para que nossa pátria recupere sua existência é necessário combater a maldita, enlouquecida e furiosa tirania que a mantém presa e torturada. Tirania de incendiários e mentirosos, de hipócritas e ignorantes, de facínoras e malfeitores, de cegos e segregadores das liberdades concretas. Tirania do número e do garrote vil, dos criminosos de guerra de outrora (guerra subversiva e revolucionária como tem demonstrado o Deputado Jair Bolsonaro), revestidos agora em donos do poder. Tirania de imorais, ateus e apátridas, unidos todos sobre a comum e repugnante marca do ressentimento.
O ressentimento: essa "ira ulcerada", como o definiu o Pe. Castellani, "mesclada de inveja, de soberba e, sobretudo, de preguiça. Veneno que é como uma ferida inflamada e depois gangrenosa".
O ressentimento é uma auto-intoxicação psíquica que surge ao reprimir sistematicamente os afetos e as descargas emocionais normais. Revela a consciência da própria impotência, pois, leva a refrear esse impulso espontâneo de vingança que se vai acumulando, e atrasando assim o contra-ataque. O ressentimento acumulado acaba por desumanizar o adversário, abrindo assim a porta ao extermínio. Como disse um assassino das FARC: «Yo no he matado a una persona, he matado a un empresario».
Não é demais relembrar que Cristo foi crucificado sobre o mandato de Tibério, "o ressentido do ano 33”.

sábado, 1 de novembro de 2008

Gen. Olympio Mourão Filho: um profeta


O General Olympio Mourão Filho (figura de destaque na recente história do Brasil, sobremodo na Revolução de 64 que livrou o Brasil das do comunismo), não chegou a conhecer Lula, mas certamente as palavras que agora transcrevemos revelam que este grande homem de nossas armas também foi um profeta.

"Ponha-se na presidência qualquer medíocre, louco ou semi-analfabeto e vinte e quatro horas depois a horda de aduladores estará à sua volta, brandindo o elogio como arma, convencendo-o de que é um gênio político e um grande homem, e de que tudo o que faz está certo. Em pouco tempo transforma-se um ignorante em um sábio, um louco em um gênio equilibrado, um primário em um estadista. E um homem nessa posição, empunhando as rédeas de um poder praticamente sem limites, embriagado pela bajulação, transforma-se num monstro perigoso".
(Gen. Olympio Mourão Filho. Memórias: a verdade de um revolucionário. Porto Alegre: L&PM, 1978, p. 16.)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Raimundo Farias Brito: homenagem ao grande filósofo cearense

Fernando Rodrigues Batista



Um personagem de Chesterton, em "A Esfera e a Cruz", quebrava a bengaladas as vidraças de um jornal que ofendia a Mãe de Cristo, era uma forma de fazer frente a seus opositores e do cristianismo.
Nesta linha de raciocínio, no Brasil, Raimundo Farias Brito (1862-1917), notável filósofo cearense, hoje olvidado dos meios intelectuais, espancava seus antagonistas com o vigor de sua pena, sobretudo àqueles pertencentes ao que ele alcunhou de "filosofia do desespero", a saber, o fenomenismo de Hume; o criticismo de Kant; o positivismo de Augusto Comte.
A obra erigida pelo portentoso pensador pátrio contribuiria em nosso tempo, para pôr cobro à faina demolidora, esse insulamento trágico do existir – conforme expressão de Elias Tejada – que é a regra dos desbocados existencialismos modernos, seja o cristão de Soren Kierkegaard, ou o heideggeriano, ou mesmo o existencialismo ateu de Sartre.
Farias Brito entendia que, a filosofia, fornecendo uma interpretação da existência, dá-nos ao mesmo tempo a compreensão do nosso destino.
Novalis, de uma certa feita, ensinou que, só um artista pode adivinhar o sentido da vida. Nesse sentido, Carlos da Veiga Lima, em estudo referente à obra de Farias Brito, dizia em certa altura: "E haverá maior artista que o filósofo?... A filosofia é a arte suprema... arte para nosso filósofo, não é senão, energia criadora do ideal".
A realidade é uma afirmação do espírito, e só o espírito atrai o pensamento, dando-lhe força pragmática, modelando como IDÉIA FORÇA que coordena o obscuro mecanismo da nossa personalidade e da realidade à nossa consciência e eficácia a idéia (Carlos da Veiga Lima).
Somente através da filosofia se pode alargar o horizonte humano da vida moral e chegar ao heroísmo da vida religiosa.
Acerca do assunto, consoante a lição do insuspeito Willian James, filosofo do pragmatismo, "... é no heroísmo bem sentimos, que se acha escondido o mistério da vida... é abraçando a morte q se vive a vida mais alta, mais intensa, mais perfeita, profunda verdade de que o ascetismo foi sempre no mundo campeão fiel. A loucura da Cruz conserva uma significação profunda e viva". (W. James, in L´experience religiouse).
Farias Brito foi um inovador, um paladino do espírito, se colocou em combate num campo onde se encontravam adversários do estofo de um Tobias Barreto e de uma plêiade de intelectuais seguidores de Augusto Comte e Herbert Spencer, merecendo a justa homenagem do conspícuo professor Câmara Cascudo, que com a loquacidade que lhe era peculiar, definiu o homem e autor de "Finalidade do Mundo", como, "singular operário, obstinado e tranqüilo, batendo uma silenciosa bigorna, um aço que resistiria à ferrugem de todas as indiferenças, destinado a relampejar, ao calor do sol, como uma aura de esplendor e sucesso".
É notório verificar, não sem preocupação, que a juventude, pensante ou não, ainda sofre os influxos da putrefação filosófica, se deleitando nas leituras dos próceres do pensamento materialista, Hegel, Marx, Feuerbach, Heidegger, Kant... se tornando infensos a vigorosidade da "Filosofia do Espírito" do saudoso pensador cearense. Cabe proclamar com exaustão, que para Farias Brito, é o Espírito que elabora idéias, produz o pensamento, cria a ciência, interpreta o universo.
Entendemos que tudo quanto escreveu, foi para os olhos de nossa geração, que caminha como fardo sem endereço, em busca de um relâmpago interior que seja inoculado em suas almas, impulsionando-os às culminâncias mais elevadas, dando significado e dignidade ao seu destino.
Corroborando com tudo quanto dissemos, cabe ressaltar a indelével sentença de um ilustre pensador lusitano: "... os homens passam com o seu tropéu de ódios, com o seu cortejo de violências, mas que não passa jamais toda afirmação que é feita com amor e servida com sinceridade".

Que é a Revolução?


Charles Maurras: "A revolução verdadeira não é a revolução na rua, é a maneira revolucionária de pensar"
A Revolução nas inteligências vem de longe. Daí é que ela passa as barricadas. Sua eclosão, precedendo as jornadas revolucionárias nas ruas de Paris em 1789, foi magnificamente estuda por Augustin Cochin, que fez compreender o verdadeiro sentido da Revolução "antifrancesa", dando a conhecer a ação das "sociedades de pensamento" e a "maneira revolucionária de pensar".

Naquela mesma época foi igualmente, e com alta categoria, delineada por Bernard Fay em La Revolution intellectualle au XVIIIe Siècle en France, este mesmo Bernard Fay que mais recentemente nos deu seu livro chave, La Naissance d´um Monstre, mostrando como, através da história, se tem forjado a "opinião pública".

Vem de longe a Revolução nas idéias.

Mas o que a Revolução? Responde Monsenhor Gaume (La Révolution):

"Eu não sou o que se pensa. Muitos falam de mim e muito poucos me conhecem. Eu não sou nem o carbonarismo, nem a arruaça, nem a mudança de monarquia em república, nem a substituição de uma dinastia por outra, nem a perturbação momentânea da ordem pública, nem os furores da Montanha, nem o combate das barricadas, nem a pilhagem, nem o incêndio, nem a lei agrária, nem a guilhotina, nem os afogamentos. Eu não sou nem Marat, nem Robespierre, nem Kossuth. Estes homens são meus filhos, não são eu mesma. Estas coisas são minhas obras, não são eu mesma. Estes homens e estas coisas são fatos passageiros e eu sou um estado permanente...""Eu sou o ódio de toda ordem que o homem estabeleceu e na qual ele não é rei e Deus ao mesmo tempo".

A Revolução é a substituição da religião do Deus feito homem pela religião do homem feito Deus.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Trotskismo em cinco pontos: doutrinas e pessoas

Transcrevo aqui um texto original da revista Permanences (413-414, «Autopsie de la Révolution»), que a pesar do tempo transcorrido não perdeu sua atualidade, sobretudo na América Latina governada quase em sua totalidade pela esquerda.

É habitual resumir em cinco pontos os mecanismos da Revolução (1) que sintetizam a tática elaborada por León Trotsky.


1 – Dispor de pequenas equipes de homens formados e exercitados. Este ponto não tem nada de subversivo em si; recordamos suficientemente esta necessidade de pequenas equipes e a força do pequeno número. Constitui o elemento obrigatório de toda ação humana eficaz.


2 – Montar pequenas operações que bloqueiem o funcionamento normal das instituições. Se trata de por de relevo a fragilidade do poder existente. Se provoca uma paralisação do país ou alguns setores de atividade; o "beneficio prático" obtido importa pouco, o êxito só está vinculado ao impacto ideológico. Exemplos: A greve ou a transgressão que conduz a um processo judicial para manifestar que a lei tornou-se ultrapassada e não pode ser respeitada…

3 – Suscitar a dúvida, o medo, o silêncio e o recolhimento sobre sí. A dúvida, que paralisa, é a arma mais eficaz de Satanás. O objetivo é, em particular, instalar o temor (temor de não ser de seu tempo, de ser racista, homófobo…) e de constituir o que se acorda em chamar a "maioria silenciosa". Esta maioria é efetivamente convertida em silenciosa por meios de pressão eficazes.

4 – Suscitar e fazer crer a aparição de uma nova moral e, em conseqüência, de uma nova legitimidade. O discurso subversivo procura, constantemente, ser moralizador. Tem por objetivo fabricar uma consciência coletiva que maneje a consciência pessoal. Um consenso fabricado substitui os dados essenciais da lei natural. O vocabulário é manipulado: bebê de proveta se converteu, em ocasião dos debates sobre bioética, em bebê do amor ou bebê da esperança… Encontramos aqui o princípio maçônico solve et coagula: dissolver uma moral para legitimar uma novidade.

5 – Suscitar novos poderes sobrepondo-se acima das competências e responsabilidades legais. O poder político debilitado é substituído por um poder paralelo, que não está fundado em legitimidade alguma e não responde por suas decisões. A política se elabora em comissões ou grupos obscuros (financeiros, maçônicos…). Organismos como SOS Racismo ou Act-Up elaboram as leis. As ONGs se convertem em níveis essenciais destas hierarquias paralelas a nível mundial (planificação familiar…).


A cada um destes pontos corresponde uma "contra-medida", mas é importante recordar que a ação contra revolucionária não é uma Revolução ao contrário senão o contrário da Revolução.
A pergunta, por quem é que lutamos?, enquanto laicos católicos, não podemos senão responder: por Cristo Rei. A pergunta, contra quem nós lutamos?, a resposta é também evidente: contra Satã. Mas Satã é "legião", como nos diz a Escritura. Se sabe que a Virgem em La Salette revelou aos videntes que Lucifer aparecia assistido por uma classe de ministério composto de três membros: Mamón, o demônio do dinheiro; Asmodeo, o demônio da luxúria, e Belzebu, o demônio do ocultismo.

Uma vez mais, devemos a Jean Ousset (2) a conclusão e a intuição do que convém fazer:
"Temos em nossa frente o erro e aqueles que o divulgam. É impossível separar os dois. Os erros são similares as flechas as quais não fariam nenhum mal a ninguém se não houvesse quem as lançassem com um arco ou com um fuzil. Pretender guerrear somente contra as idéias e os sistemas perversos, sem Ter em conta quem os divulgam, difundem, aplicam sistematicamente sería uma loucura, senão cumplicidade manifesta com o inimigo".


(1) Utilizamos aqui o folheto de Philippe Maxence: Introduction à une action civique.

(2) Pour qu’Il règne, p. 81.

domingo, 21 de setembro de 2008

Nação, Pátria e Tradição.

Fernando Rodrigues Batista



Pátria costuma dizer-se do país em que nascemos: terra patrum, e traz a idéia de herança de um patrimônio material e cultural que recebemos dos nosso maiores e devemos conservar e defender para podermos transmitir íntegro aos nossos filhos, assim nos a inteligência máscula de José Pedro Galvão de Sousa.
Nação – do latim nasci (nascer) – evoca a idéia de origem e significa precipuamente uma família histórica. Conclui-se, portanto, que a nação não é simplesmente o povo, não se confunde com o conjunto dos habitantes de um país, nem se reduz à população nacional, é uma categoria temporal e histórica, abrange o ontem, o hoje e o amanhã, eis por que as nações se diferenciam entre si pela tradição que caracteriza a cada uma delas, dando-lhe uma individualidade histórica.
Nesse mesmo diapasão, Plínio Salgado entende por nação a consciência da diferenciação de um povo dos demais povos do mundo. Esta consciência é que dá o caráter da personalidade nacional.
E ainda, acrescenta o autor acima citado, que a nação é, do ponto de vista de sua fisiologia, um conjunto de grupos naturais, criados pelo homem para o exercício de seus direitos e cumprimentos de seus deveres.
Do ponto de vista psicológico, a nação exprime uma consciência de diferenciação histórica dos demais grupos humanos. As pátrias estão localizadas no espaço, sendo que as nações se prolongam no tempo, o primeiro conceito é mais estático, o segundo mais dinâmico.
Pode-se também dizer, em conformidade com a Escola Jurídica Espanhola, que Nação é um conceito histórico, sendo que a Pátria por sua vez é um conceito geográfico.
Le Fur em sua obra "Os grandes problemas do Direito", preleciona que à idéia de nação ou de nacionalidade, que tem em vista sobretudo os homens, - e não somente os cidadãos presentes mas também os de ontem e de amanhã, a idéia de pátria acrescenta a de um território determinado: terra pátria, terra patrum, a terra dos avós, hoje nossa, amanhã de nossos descendentes.
Assim ela pode ser definida, "o lar de uma nação". Mas cumpre não esquecer que o elemento espiritual, o amor dos homens, deve vir antes do amor do solo, elemento material.
A. Massineo, por seu turno, ressalta que a pátria exprime de modo direto e principal, per prius diriam os escolásticos, a terra dos pais, e de modo indireto, por conexão íntima com o primeiro objeto significado, os costumes, as tradições, os homens que a habitam (MASSINEO, A, La Nazione, Ed. Civiltà Cattolica, Roma, 1944, p. 137 e 138.).
Já o nacionalismo, consoante a lição do mesmo autor, é uma virtude moral que nos inclina a amar a nossa nação e a cumprir todos os deveres, que a piedade nos impõe para com todos aqueles que nos são unidos pela identidade de origem e cultura. (ob. cit., p. 139).
Inolvidável, porém, é a passagem luminosa de Bossuet onde enfatiza que, a sociedade humana exige que se ame a terra em que todos juntos habitamos. Olhamo-la como mãe comum e a ela nos prendemos. É ao que os latinos chamam charitas patria soli, o amor do solo paterno. Os homens, sentem-se, com efeito, ligados por fortes laços quando pensam que a mesma terra que os suportou e alimentou vivos os receberá mortos em seu seio.
Consoante os parágrafos acima delineados, vislumbra-se que uma das realidades mais humanas e dinâmicas que podemos encontrar é a da nação.
Pela idéia de "nascimento" que expressa, a nação nos fala de um "encadeamento de gerações" na transmissão da vida, ou seja, nos fala de tradição. Daí o porque Francisco de Elias Tejada y Spinola definir o patriotismo como sendo o amor à essência de um povo, isto é, à sua tradição.
Impossível o nacionalismo sem patriotismo, pondera Plínio Salgado, como impossível é o patriotismo sem amor à Tradição, logo, a Tradição, sendo fonte da própria Nação, é fundamento do patriotismo, que dinamiza o nacionalismo, ou a empresa lançada para o futuro.
A importância da Tradição é forçosa se se pretende manter a personalidade das Pátrias, que sem ela estas deixariam de existir, em consonância com a lição de Pemrtin, segundo o qual "se é tradicionalista, não por gosto, mas porque não há outro remédio senão apoiar-se em nossa própria substância, em nossa personalidade, se se quer meramente ser".
Nesse sentido é que o professor Tejada prelecionava acerca da Nacionalidade: "O essencial é uma comunidade política em espírito; os laços legais nada valem se não interpretam seu conteúdo efetivo de idealidade. Por isso, o problema fundamental de um governante é, precisamente, este de forjar e manter essa unidade de espírito que faz as empresas nacionais".
Este ambiente é o que em nosso pensamento político emanado de um substrato católico é conhecido como Tradição, e que levou o insigne jurista espanhol Miguel Ayuso Torres a afirmar que os povos não são "nações", são "tradições". É um amor de agradecimento. E é um dever de não dilapidar o patrimônio que nos há sido legado. Gérman Doig já dizia que não se pode viver com coerência o presente e menos ainda construir o amanha se se perdem as raízes (..) Não existe desenvolvimento autêntico se se edifica de costas a própria identidade."( DOIG, Germán. América Latina, Identidad y Destino, VE. N° 44 Dic. 1999, p. 22).
Antônio Sardinha, relembrava o ensinamento do neto de Renan: "é preciso tomar o partido dos nossos Maiores contra o partido de nossos Pais". Ao que acrescentava o inolvidável mestre português: "tomar o partido de nossos maiores é reconciliar-nos com a essência da Pátria, - é integrar-nos na seqüência tradicional do nosso passado de ocidentais...".
Tradição é o caráter da Nação. Leciona Plínio Salgado que, assim como para o homem isolado, o caráter é a memória de cada ato individual e do conjunto dos atos individuais na sua vida de relação com outros homens e com o conjunto social, informando permanentemente o "fazer" e o "que fazer" no presente e no futuro, também o caráter de uma Nação consiste nessa faculdade de lembrar, de trazer em dia as atitudes pretéritas, para harmonizar o que foi, o que é e o que virá, num sentido de afirmação de personalidade.
Na mesma linha de raciocínio, a Nação para José Antônio Primo Rivera é irrevogável, isto é, que a Tradição que a constitui não pertence a uma geração que o tempo leva, porque esta recebeu-a do esforço de gerações anteriores e deverá entregá-la como depósito sagrado às gerações que sucedem.
Ao contrário de Primo Rivera, Francisco Elias Tejada, acrescenta que prefere o conceito de usufruto (em relação a Nação), porque esse acervo sagrado do que foi e continua a ser com vitalidade presentes, admite de nossa parte uso e melhoras, porém sempre sem poder abusar, ou como se diz em Direito Romano, salva rei substantia.
Tão íntimos que são o nacionalismo e o patriotismo que João Ameal preleciona que patriotismo é a nossa gratidão à sociedade, que encontramos já pronta a receber-nos, ordenada, regulada, tuteladar, no seio da qual nos formamos e desenvolvemos, pouco a pouco, amparados pelas suas firmes estruturas; com a qual contamos hoje para nos assegurar proteção e justiça; com a qual sabemos poder contar amanhã (visto a sua existência nos aparecer duradoura e estável) para dar aos que nos sucederem os mesmos benefícios que nos deu a nós. Gratidão no espaço – pois estendemos o nosso afeto a toda a vasta comunidade em que estamos integrados; e gratidão no tempo – pois o estendemos também a quantos, nos passado, ajudaram a construir, reforçar, a consolidar o agregado em que nos precederam; a quantos defenderam e aumentaram esse Bem Comum de que somos agora usufrutuários.
E é nesse sentido que, não podemos malbaratar a Nação, nem aliená-la, porque não somos donos absolutos, mas a recebemos como legado vivo do passado para transmiti-la ao futuro.
No mesmo mister, o conspícuo pensador francês Jean Ousset escreveu:
"A nação é a sucessão dos homens da pátria, no passado e no porvir, assim como no presente. Não é o simples total dos que vivem. A nação existia antes deles, e quando eles morrerem ainda sobreviverá. A nação se refere, pois, a aquele que faz a união ou a unidade de um certo numero de gerações em certo rincão do planeta e também, ao que permite dizer que, em determinada região, ou para determinada classe de homens, existe verdadeiramente uma comunidade de mortos e vivos. Por isso, as vezes se nos ensina que o espírito nacional reside primeiramente na consciência de cada um nós." (OUSSET, J. Patria, Nación, Estado, Ed. Speiro, Madrid p. 22-23)
Deve-se acrescentar, porém, que há pátrias (patrimônios) que não souberam guardar, por exemplo, a unidade de sua fé católica, que não conheceram, ou quase, o incêndio, a devastação destas revoluções ideológicas e sociais de que os rancores, os ódios podem tornar-se a todo momento ocasião de divisão dos espíritos e dos corações.
Em outras palavras, se há pátrias (patrimônios) harmoniosas, unas, há as atormentadas. Pátrias em que os valores de vida são continuamente ameaçados pelos valores de revolução e de morte. Pátrias, que atrás de si, arrastam um pesado passivo de culpas ou de erros políticos, filosóficos, religiosos. Daí a lamentação de Ousset ao dizer que há Pátrias que perecem marcadas por Deus, tanto o subversivo e o falso ocupam lugar em sua herança. Pátrias que, em filosofia, em literatura, em religião, não são conhecidas, muitas vezes, senão pelo nome de hereges célebres, escritores corruptores, filósofos subversivos. Pátrias que trazem em si um veneno capaz de provocar a todo momento a desagregação da nação de que participam, tanto os valores dessas pátrias são divisores, destruidores, desmoralizantes.
Palavras profícuas, lançadas como flechas no seio de nossa pátria, fazendo-nos recordar como a herança dos hereges pesa sobre nós.
E nesse sentido é que um brilhante pensador alemão a respeito de seu país, lamentava, após as terríveis conseqüências oriundas do influxo das idéias de Lutero, Kant e do nazismo no seio de seu povo: "Nós sofremos porque os erros que professamos, as falsas religiões que praticamos nos impedem de afastar ou de neutralizar em nosso patrimônio nacional o que significa decomposição, desordem, fome, servidão".
Por derradeiro, conclui-se que se tais elementos devastadores, as falsas religiões, as filosofias deletérias aos poucos vão corroendo a alma nacional, sua essência, sua tradição, alterando sua substancia que nos fora legada por nossos maiores, a Nação deixa de ser Pátria, deixa de encerrar qualquer elemento sagrado, tornando-se tão somente coexistência laica. Daí a pergunta do filósofo tradicionalista espanhol Rafael Gambra: "que sentido tem morrer por ela? Morrer pelo standing, pela segurança social, pelo desenvolvimento econômico? Os objetores de consciência vêm a ser "objetores de lógica", e é preciso dar-lhes razão".
E arremata: "O divórcio já veio. Quem é o Estado Laico para determinar que uma união não indissolúvel seja um contrato imoral que as leis civis não podem admitir? E virá o estatuto dos ritos ocultistas, mágicos, o casamento entre homossexuais e a possibilidade destes adotarem filhos, um estatuto dos toxicômanos. Em nome de quem proibir estas coisas, enquanto não atentam contra os demais em sua vida física?".
Por isso considero que sem dúvidas o homem deve amar sua família, aos mais próximos, a aqueles que hão criado e lhe legaram um ambiente e uma cultura nos quais ele tem se desenvolvido, pois amar à Pátria significa amar à Tradição, e que nosso nacionalismo, tão necessário na hora presente, seja aquele preconizado pelo sociólogo jesuíta Yves de la Brière ( ao menos no sentido em que o conceituou) que se caracteriza como reação do sentimento nacional contra as influências perniciosas que tendam a dissociar a pátria, influências criadas pela ameaça da força estrangeira, pela penetração da finança estrangeira, ou pela difusão de doutrinas e métodos que enervam, desorganizam e fazem esquecer as justas necessidades políticas do interesse nacional, sem todavia, os excessos dos falsos nacionalismos que tantas mazelas trouxeram a humanidade. O verdadeiro Nacionalismo é o escudo do Patriotismo.