segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Raimundo Farias Brito: homenagem ao grande filósofo cearense

Fernando Rodrigues Batista



Um personagem de Chesterton, em "A Esfera e a Cruz", quebrava a bengaladas as vidraças de um jornal que ofendia a Mãe de Cristo, era uma forma de fazer frente a seus opositores e do cristianismo.
Nesta linha de raciocínio, no Brasil, Raimundo Farias Brito (1862-1917), notável filósofo cearense, hoje olvidado dos meios intelectuais, espancava seus antagonistas com o vigor de sua pena, sobretudo àqueles pertencentes ao que ele alcunhou de "filosofia do desespero", a saber, o fenomenismo de Hume; o criticismo de Kant; o positivismo de Augusto Comte.
A obra erigida pelo portentoso pensador pátrio contribuiria em nosso tempo, para pôr cobro à faina demolidora, esse insulamento trágico do existir – conforme expressão de Elias Tejada – que é a regra dos desbocados existencialismos modernos, seja o cristão de Soren Kierkegaard, ou o heideggeriano, ou mesmo o existencialismo ateu de Sartre.
Farias Brito entendia que, a filosofia, fornecendo uma interpretação da existência, dá-nos ao mesmo tempo a compreensão do nosso destino.
Novalis, de uma certa feita, ensinou que, só um artista pode adivinhar o sentido da vida. Nesse sentido, Carlos da Veiga Lima, em estudo referente à obra de Farias Brito, dizia em certa altura: "E haverá maior artista que o filósofo?... A filosofia é a arte suprema... arte para nosso filósofo, não é senão, energia criadora do ideal".
A realidade é uma afirmação do espírito, e só o espírito atrai o pensamento, dando-lhe força pragmática, modelando como IDÉIA FORÇA que coordena o obscuro mecanismo da nossa personalidade e da realidade à nossa consciência e eficácia a idéia (Carlos da Veiga Lima).
Somente através da filosofia se pode alargar o horizonte humano da vida moral e chegar ao heroísmo da vida religiosa.
Acerca do assunto, consoante a lição do insuspeito Willian James, filosofo do pragmatismo, "... é no heroísmo bem sentimos, que se acha escondido o mistério da vida... é abraçando a morte q se vive a vida mais alta, mais intensa, mais perfeita, profunda verdade de que o ascetismo foi sempre no mundo campeão fiel. A loucura da Cruz conserva uma significação profunda e viva". (W. James, in L´experience religiouse).
Farias Brito foi um inovador, um paladino do espírito, se colocou em combate num campo onde se encontravam adversários do estofo de um Tobias Barreto e de uma plêiade de intelectuais seguidores de Augusto Comte e Herbert Spencer, merecendo a justa homenagem do conspícuo professor Câmara Cascudo, que com a loquacidade que lhe era peculiar, definiu o homem e autor de "Finalidade do Mundo", como, "singular operário, obstinado e tranqüilo, batendo uma silenciosa bigorna, um aço que resistiria à ferrugem de todas as indiferenças, destinado a relampejar, ao calor do sol, como uma aura de esplendor e sucesso".
É notório verificar, não sem preocupação, que a juventude, pensante ou não, ainda sofre os influxos da putrefação filosófica, se deleitando nas leituras dos próceres do pensamento materialista, Hegel, Marx, Feuerbach, Heidegger, Kant... se tornando infensos a vigorosidade da "Filosofia do Espírito" do saudoso pensador cearense. Cabe proclamar com exaustão, que para Farias Brito, é o Espírito que elabora idéias, produz o pensamento, cria a ciência, interpreta o universo.
Entendemos que tudo quanto escreveu, foi para os olhos de nossa geração, que caminha como fardo sem endereço, em busca de um relâmpago interior que seja inoculado em suas almas, impulsionando-os às culminâncias mais elevadas, dando significado e dignidade ao seu destino.
Corroborando com tudo quanto dissemos, cabe ressaltar a indelével sentença de um ilustre pensador lusitano: "... os homens passam com o seu tropéu de ódios, com o seu cortejo de violências, mas que não passa jamais toda afirmação que é feita com amor e servida com sinceridade".

Que é a Revolução?


Charles Maurras: "A revolução verdadeira não é a revolução na rua, é a maneira revolucionária de pensar"
A Revolução nas inteligências vem de longe. Daí é que ela passa as barricadas. Sua eclosão, precedendo as jornadas revolucionárias nas ruas de Paris em 1789, foi magnificamente estuda por Augustin Cochin, que fez compreender o verdadeiro sentido da Revolução "antifrancesa", dando a conhecer a ação das "sociedades de pensamento" e a "maneira revolucionária de pensar".

Naquela mesma época foi igualmente, e com alta categoria, delineada por Bernard Fay em La Revolution intellectualle au XVIIIe Siècle en France, este mesmo Bernard Fay que mais recentemente nos deu seu livro chave, La Naissance d´um Monstre, mostrando como, através da história, se tem forjado a "opinião pública".

Vem de longe a Revolução nas idéias.

Mas o que a Revolução? Responde Monsenhor Gaume (La Révolution):

"Eu não sou o que se pensa. Muitos falam de mim e muito poucos me conhecem. Eu não sou nem o carbonarismo, nem a arruaça, nem a mudança de monarquia em república, nem a substituição de uma dinastia por outra, nem a perturbação momentânea da ordem pública, nem os furores da Montanha, nem o combate das barricadas, nem a pilhagem, nem o incêndio, nem a lei agrária, nem a guilhotina, nem os afogamentos. Eu não sou nem Marat, nem Robespierre, nem Kossuth. Estes homens são meus filhos, não são eu mesma. Estas coisas são minhas obras, não são eu mesma. Estes homens e estas coisas são fatos passageiros e eu sou um estado permanente...""Eu sou o ódio de toda ordem que o homem estabeleceu e na qual ele não é rei e Deus ao mesmo tempo".

A Revolução é a substituição da religião do Deus feito homem pela religião do homem feito Deus.