segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Os poetas assassinados

Por João Bigotte Chorão

A revolução francesa que transportava nos flancos a arbitrariedade e a injustiça, a libertinagem e a tirania, a violência e o sangue, condenou à morte o poeta André Chénier. A revolução russa, conduzida também sob o signo do ódio, só não levou ao cadafalso Maiakovsky porque o poeta, desiludido e desesperado, se deu à morte.
Nascida do terror da revolução francesa, a época contemporânea recorda a sua origem sanguinolenta na sistemática perseguição aos poetas que denunciam os mitos modernos.
Condenado à morte o jovem poeta como Chénier, Brasillach evoca na prisão com um frémito de ternura e orgulho aquele que o antecedeu no martírio.
Outros, se lhes foi poupada a vida, sofreram no entanto a perseguição e a calúnia. Basta lembrar os nomes de Ezra Pound e de Vintila Horia.
Declarado louco (pois é loucura denunciar neste tempo o materialismo capitalista e a impostura democrática), Pound conheceu o cativeiro e o insulto do manicómio.
“Era impossível viver nos Estados Unidos fora de um manicómio”, dirá lucidamente esse europeu nascido na América.
Fiel como Claudel e Eliot à Lição de Dante, Pound escreveu os Cantos, grande poema em que colaboraram céu e terra. Para entendê-lo na sua extensão e profundidade, é preciso saber várias línguas vivas e mortas, conhecer a Bíblia e a Comedia, estudar História e Economia, ter alguma notícia de poesia chinesa e de pintura italiana, ser destro em armas, esperto em letras, experiente da vida.
Vintila Horia, escritor romeno de expressão francesa (como Gheorghiu e Cioran), bebeu as lágrimas do exílio e o sangue das feridas. Intelectual das direitas — como a si mesmo se definiu — que guardou fidelidade à tradição latina e cristã da Romênia, adversário do regime que humilha o seu país, Vintila Horia foi vítima da coligação marxista e democrática. Distinguido em 1960 com o Prêmio Goncourt, o escritor romeno renunciou a ele depois de uma campanha caluniosa.
No martiriológio nacionalista, dois nomes concitam a nossa emoção e o nosso fervor: o de José António e o de Robert Brasillach. Ambos réus de um julgamento iníquo, ambos serenos na morte, ambos sacrificados na juventude pelos seus ideais.
Para o caudilho e para o escritor a política era uma forma de arte. Em José António, a política sublimava-se na poesia, em Brasillach a poesia comprometia-se na política. José António foi um poeta que se realizou na acção política, Brasillach um militante que se realizou na criação poética.
A clareza de pensamento, a transparência de estilo, o exemplo de juventude, o teor de vida, o entendimento da pátria, tais são alguns tópicos das personagens fraternas de José António e Brasillach.
Numa página admirável, falou José António de um paraíso difícil guardado por anjos com espadas de fogo. Um paraíso proibido aos invertebrados e prometido aos guerreiros. Um paraíso, como o islâmico, em que se descansa à sombra das espadas. Um paraíso onde não é difícil imaginar, vertical e luminoso, o poeta Brasillach.