segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A geração hobbit


"Tolkien nunca participou em política nem expressou convicções definidas; tão pouco ‘O Senhor dos Anéis’ pode ser reduzido às categorias políticas em uso: nem ao debate político dos anos 1940-1950, nem ao de 2001. Mesmo assim, não pode negar-se um fato evidente: nem Tolkien nem a sua obra escrita podem ser consideradas neutrais perante os episódios fundamentais do nosso tempo.
Gandalf está vivo e luta conosco’: não é um mote surrealista, mas um lema político do início dos anos 70, imediatamente após a primeira tradução italiana de "O Senhor dos Anéis". Já então, na Península Itálica, se compreendera a militância estrutural do mundo de Tolkien contra a evolução do mundo moderno e em defesa, em entre-linhas, de determinados princípios: sacrifício perante o hedonismo, família e comunidade contra o individualismo, fidelidade e integridade frente ao transformismo, tradição e respeito perante a mecanização, ecologia e lei natural perante a exploração da Terra.


Gandalf, como o seu criador Tolkien, não é de direita. Nem de esquerda. Representam simplesmente a denúncia dos males da sociedade de consumo. E uma alternativa ética, mesmo que não necessariamente política e ideológica. Em muitos e distantes países, uma minoria de jovens - sempre jovens, independentemente da sua idade e sempre rodeados por jovens cronológicos - adotou Tolkien como bandeira de protesto, ou apenas como símbolo de uma opção de descontentamento pessoal.(...) Falamos dos jovens de todas as idades que participaram nos já longínquos ‘Acampamentos Hobbit’, que ouviram a diferente música da ‘La Compagnia dell'Anello’, que utilizaram os nomes de ‘Eowyn’ ou de ‘Erebor’ para as suas iniciativas culturais. Uma juventude diferente, dissidente, minoritária e mais disposta a seguir um mito literário anti-moderno que a submeter-se às modas dominantes. Uma juventude quase marginal, mas viva e real, surpreendentemente consciente da sua identidade comunitária e difusamente disposta a uma luta quase espiritual num mundo pouco inteligível como o contemporâneo. Haverá uma ‘geração hobbit’? Nas atuais circunstâncias, os valores de JRR Tolkien não podem chegar a ser socialmente dominantes. A sociedade ocidental baseia a sua organização nos princípios mais opostos. Vivemos entre Morgul e Mordor. Mas continuará a haver dissidentes, que aspirem a viver em Hobbiton ou em Lórien; e, logicamente, a difusão cinematográfica do mito favorecerá que essa minoria cresça, porque haverá um maior segmento da população exposto à inegável beleza desse mito. Com este filme poderá haver mais hobbits, mais jovens de espírito em luta estética contra as injustiças do presente.
Aconteça o que acontecer, JRR Tolkien não passou pelo Mundo sem deixar uma firme recordação.»

Pascual Tamburri