sexta-feira, 19 de junho de 2009

A hegemonia marxista

“Na trilha do marxismo caboclo (ou positivismo marxista), que tomou conta do ensino básico e das universidades, tudo passou a ser reinterpretado à luz da surrada dialética da luta de classes. Exemplo desse deserto de conhecimentos são os textos de História, que os nossos adolescentes e jovens vêm-se obrigados a engolir nos colégios e nos cursos superiores. É praticamente impossível encontrar manuais que não deformem a História do Brasil. Á sombra do cosmogônico confronto opressor-oprimido, fatos, processos, instituições e pessoas são arrumados, de forma a comprovar a validade da teoria escolástico-marxista. A realidade que se dane. Vale mais a versão ideológica do que a intrincada complexidade da vida. Como no seio da luta de classes não há lugar para a dimensão pessoal nem para a existencial, o herói, que por essência é a quebra arquetípica do anonimato da coletividade, não interessa. Atores, só a burguesia e o proletariado. A burguesia, tornada substancia na miraculosa reificação da crítica marxista, arrota, oprime, mata, rouba. O proletariado, igualmente coisificado, sofre, se revolta, toma consciência de classe, luta, faz a revolução, se liberta, salva os outros. À maneira das antigas cosmogonias, os dois atores primordiais contrapõem-se como a noite e o dia, o mal e o bem, o nada e o ser. Os atributos positivos correspondem, no caso, ao proletariado e os negativos à odiada burguesia”. Ricardo Veléz Rodrigues, in: Jornal da Tarde (14.X.1995)